Hoje os estudos bíblicos ensinam que a história de Caim apresenta tantas incoerências porque passou por três etapas sucessivas, até chegar onde hoje está, no livro do Gênesis. De início era um relato popular, transmitido oralmente e independente do relato de Adão e Eva. Nele se narrava a vida de um antigo herói chamado Caim, que viveu numa época já adiantada da humanidade. Por isso se falava de cidades construídas, de um culto desenvolvido a Deus, de povos inteiros que povoavam a terra e se mencionavam a agricultura e a criação de gado. Deduz-se que era uma figura famosa porque, na Bíblia, costuma-se explicar o nome das pessoas importantes. E o Gênesis dá uma explicação do nome “Caim” = “adquirir”.
Quando a criança se fez grande converteu-se no fundador de uma famosa tribo beduína chamada “cainita”, que habitava o deserto, ao sul de Israel.
A história incluía também seu casamento, talvez com alguma das muitas jovens pertencentes aos clãs que na época habitavam o deserto, e o nascimento de seu filho Henoc. Gn4,17. Essa história, que os cainitas contavam a respeito de seu fundador, Caim, era conhecida pelos seus vizinhos, os israelitas. Eles, no entanto, a modificarão.
De fato, chamava-lhes a atenção o fato de que tais beduínos viviam em pleno deserto, isolados das terras cultivadas. E que, por não encontrarem em seus áridos territórios meios suficientes de subsistência, dedicavam-se à pilhagem e ao soco.
Perguntavam então: Por que os cainitas levam vida tão penosa e errante, longe da terra prometida e abençoada por Deus? E respondiam que se tratava de um castigo de Deus que os havia condenado a viver errantes por causa de algum delito cometido por seu fundador. Que tipo de delito? Não sabiam, mas os cainitas assolavam permanentemente as terras cultivadas de tribos irmãs de raça, imaginaram que o delito de Caim era contra seu irmão.
Uma vez que os cainitas adoravam a Javé, assim como os israelitas, puseram no relato que “Caim oferecia seus frutos a Javé” Gn 4,3.
Estes beduínos eram célebres pelas terríveis vinganças que perpetravam contra quem matava um de seus membros. Por isso acrescentaram “Se alguém matar Caim, será vingado sete vezes” Gn 4,15.
É possível que manifestavam externamente sua pertença à tribo através de um sinal ou tatuagem. Por isso o texto sugere que Caim tinha um sinal para que ninguém que o encontrasse o matasse Gn 4,15.
Para completar o relato faltava ainda um detalhe: Acrescentar a figura de irmão assassinado. Assim imaginavam, no relato, a Abel. Assim foi que esta história entrou em segunda etapa.
Mais tarde na época de Salomão, a história de Caim passou para uma terceira etapa. Um escritor judeu anônimo que a conhecia, se deu conta que ela oferecia muitas possibilidades. Este lavrador, expulso da terra cultivável e condenado a vagar errante para sempre, se prestava perfeitamente para aprofundar a explicação da presença do mal no mundo. E, com alguns retoques, resolveu acrescentá-la como continuação do relato de Adão e Eva, apesar das incoerências que apresentaria, como o fato de aparecer casado, quando Caim era ainda a terceira pessoa da humanidade.
A lenda de Caim, inserida como continuação do relato de Adão e Eva, fomentou (facilitou) o ensinamento do respeito ao irmão com o mesmo afã (entusiasmo) com que se respeitava a Deus.
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