quinta-feira, 27 de novembro de 2014

TODO DIA É DIA DO SENHOR


Dentro do estudo das Cartas de Pedro, trabalhamos aqui o tema: os frutos da vida cristã. Neste mês em que celebramos Finados e Todos os Santos, achamos oportuno tratar de um assunto não diretamente ligado a essas duas celebrações, mas que tem com elas uma certa afinidade: o Dia do Senhor.


Geralmente há um certo temor, quando lemos algo sobre o Dia do Senhor na Bíblia. Por que será? A Segunda Carta de Pedro também o aborda por meio de imagens semelhantes às que encontramos em outros textos. Podemos conferir como a Bíblia descreve a sua chegada e o que há por detrás dessa linguagem. E no contexto cultural e religioso de 2Pd, que sentido ela tem?

Na Bíblia, a chegada do Dia do Senhor é descrita com imagens que assustam: como um ladrão que chega de improviso, como um grande estrondo que vai explodir o céu e a terra, como um fogo que vai devorar tudo (2Pd 3,12-13). Essas imagens já deram margem a muitas interpretações sobre o fim do mundo, o juízo final e o Dia da manifestação do Senhor. Esta linguagem sempre aparece num contexto de conflito e perseguição. Mas, na verdade, ninguém sabe como vai ser. Tais textos tampouco pretendem dar uma descrição de do juízo final. Qual é, então, o objetivo do autor bíblico com esses textos?

O que ele quer fazer é chamar a nossa atenção para o tempo presente. Como nós estamos vivendo a nossa vida cristã? Estamos levando a vida na honestidade, na santidade, na justiça, no respeito, na igualdade, na oração, na fraternidade? Se vivermos assim, criamos já aqui neste mundo um novo céu e uma nova terra, e estaremos preparando bem a chegada do Dia do Senhor. Esse dia não será um dia de medo, de espanto, mas de alegria, de encontro pleno e definitivo com Deus... 

O autor de 2Pd mostra uma preocupação em prevenir os cristãos diante das ameaças que podem constituir aqueles que saíram da comunidade, porque negam a segunda vinda de Jesus. Afirmam que não há nada a esperar para o futuro, pois o mundo é o mesmo desde a sua criação (2Pd 3,3-4). Há uma insistência com os cristãos para manterem firmes a fé que receberam dos apóstolos, mesmo que a vinda do Senhor esteja demorando. O fundamento, pois, da esperança na segunda vinda de Jesus está na palavra profética e na glória do Senhor Jesus, cujo testemunho foi recebido de Deus na transfiguração e transmitido pelos apóstolos. 

Os cristãos daquele tempo e nós, hoje, somos convidados à perseverança ativa no bem e a sermos coerentes com a espera da parusia (2ª vinda de Jesus), que, segundo a tradição, chegará de improviso como um ladrão, mas para aqueles que se prepararam é motivo de alegria e confiança ativa.

Nós cristãos, por iniciativa gratuita de Deus, participamos da sua mesma natureza (2Pd 1,4) e devemos progredir na consciência autêntica de uma fé que chega à prática da caridade (2Pd 1,5.7), vivendo com piedade e integridade, preparando-nos para o Dia do Senhor, com um estilo de vida fundado na fé e comprovado pela caridade fraterna que tem sua expressão concreta na justiça, no reconhecimento da dignidade e do direito do próximo. Só então haverá um novo céu e uma nova terra, porque nela habitará a justiça e não porque esta vai ser destruída pelo fogo.

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