Pergunta: Meus amigos gozaram de mim quando disse que todos os males da humanidade foram causados por Adão e Eva quando comeram do fruto proibido. Devo acreditar nessa história da Bíblia?
Resposta:
Os primeiros capítulos do livro do Gênese têm um estilo muito especial. Quem não sabe ler estas narrações como se deve, acha tudo ridículo. De fato, a cena da serpente tentando Eva a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal emprega uma linguagem figurada, como a que se usa na poesia ou mesmo nas histórias para crianças. Ninguém deve pensar que uma serpente falou e que o pecado de Adão e Eva consistiu em comer uma fruta. Mas, através dessas imagens, a Bíblia nos oferece um ensinamento religioso muito profundo.
Por que existe tanto mal no mundo? Por que o ser humano sente a tentação da ambição, da inveja, da violência? Será que Deus é responsável de tudo isso? No início do Gênesis já tinha ficado claro que tudo o que Deus criou é bom. Essa frase é repetida sete vezes, a respeito de cada tipo de criatura. Então donde vem a maldade humana com suas terríveis conseqüências? A narração bíblica explica que a culpa é do próprio ser humano: prefere seguir o seu desejo egoísta a obedecer à orientação de Deus. Em vez de comportar-se como uma criatura, pretende "ser como Deus", decidindo o que é bom e o que é mau, segundo o seu capricho.
Mas a Bíblia introduz um outro personagem na história. O homem e a mulher não estão sozinhos diante de Deus. A serpente significa o tentador, o inimigo de Deus, que procura destruir o plano da criação e provocar a desgraça da humanidade. Ele quer nos enganar sobre o nosso verdadeiro bem. Todos nós sentimos esses pensamentos e desejos egoístas. Mas o ser humano pode resistir à tentação. Segundo o ensinamento da Bíblia, ele é livre para dizer não ao maligno e sim a Deus. Quando peca, vira às costas a Deus, fonte da vida, recusa a sua amizade e a felicidade que ele promete. Comer o fruto proibido é simplesmente ceder à tentação e desobedecer à ordem de Deus. Daí vem todo o sofrimento da humanidade.
É esta a grande lição da história do pecado de Adão e Eva. Confiar em Deus, seguindo o caminho que ele mostra, é fonte de bênção. Afastar-se de Deus para seguir os próprios caminhos, é a causa de toda a miséria da humanidade. Por causa do seu pecado, Adão e Eva são expulsos do paraíso, onde viviam felizes juntos de Deus. É uma imagem das conseqüências da recusa de Deus e do seu amor. Mas a bondade de Deus supera a nossa maldade. Ele promete a salvação por meio da descendência da mulher. Jesus esmagará a cabeça da serpente. (João A. Mac Dowell S.J.)
Pergunta: É verdade que sem o pecado de Adão e Eva não haveria sofrimento nem morte?
Resposta:
A Bíblia ensina que Deus nos criou à sua imagem e semelhança, para partilhar conosco sua vida e felicidade. Este é o sentido da história do paraíso onde Deus colocou Adão e Eva. Evidentemente não se trata de um fato histórico, como, por exemplo, a morte de Jesus na cruz, mas de uma espécie de parábola, que serve para explicar uma verdade religiosa. Não existiu um jardim muito agradável onde Deus passeava e conversava com o homem e a mulher. Mas com estas imagens a Bíblia quer mostrar qual era o plano original de Deus. Ele criou os seres humanos para viverem na sua amizade como filhos queridos.
Se os primeiros homens tivessem aceitado a amizade de Deus, a nossa existência seria muito diferente. Haveria algum sofrimento, como entre os animais, resultante dos processos da natureza, frio e calor, enchentes e terremotos, e assim por diante. Mas não haveria maldade no coração humano, nem todas as suas conseqüências perversas, para o próprio pecador, a inveja, tristeza, angústia e remorso, ou para os que sofrem os efeitos do ódio e da violência. Reinaria a justiça e a paz, no respeito por Deus e sua lei, e na ajuda solidária entre todos. O nosso organismo seguiria o ciclo vital de crescimento e decomposição. Mas o fim da vida não seria, como agora, uma ruptura dolorosa com o mundo presente, nem um mergulho angustioso no vazio da morte. Este momento final seria experimentado como uma passagem suave e desejada para uma vida ainda melhor, de comunhão plena e definitiva com Deus e com toda a família humana.
Este projeto original de Deus nunca chegou a concretizar-se. Os primeiros seres humanos, que a Bíblia chama de Adão e Eva, rejeitaram desde o princípio a oferta de Deus. Por sua culpa, perderam o privilégio de viver como filhos de Deus. Separando-se dele, a fonte da vida, ficaram sujeitos a todo o tipo de males. Mas esta nova situação de miséria não afetou só o primeiro par humano. Foi herdada também por seus descendentes. Nascemos fora do paraíso, i.e. como membros duma família, cujos pais abandonaram a casa de Deus, para seguir seu próprio caminho. Por isso, vivemos num mundo marcado pelo pecado e pela morte. "A morte entrou no mundo pelo pecado" (Rom 5,12), diz S.Paulo: Nossa situação seria desesperadora, se Deus não nos tivesse salvado gratuitamente por meio de Jesus Cristo. É o que explica ainda Paulo: "Como pela desobediência de um só homem a multidão dos homens se tornou pecadora, assim também pela obediência de um só se tornará justa" (5,19). (João A. Mac Dowell S.J.)
Pergunta: É verdade que toda a humanidade nasce pecadora por culpa de Adão? Por que devemos pagar pela culpa alheia?
Resposta:
A Bíblia ensina que o primeiro homem pecou e que esse pecado comprometeu toda a sua descendência. É como o que acontece quando uma pessoa esbanja toda a sua riqueza. Os seus filhos, mesmo sem ter culpa, nascem pobres e com menos oportunidades de subir na vida. Ao nos criar Deus quis comunicar-nos os seus bens, muito mais do que um ser humano, como criatura, poderia esperar ou merecer. Ele quis introduzir-nos na própria família divina, adotando-nos como seus filhos. Por isso nos criou segundo o modelo do seu Filho eterno, para vivermos como ele no amor e na alegria.
Mas com seu pecado o primeiro homem recusou a amizade de Deus. Preferiu buscar por própria conta a sua realização a confiar na promessa de Deus. Por isso perdeu para si e para os seus descendentes o presente que Deus queria lhe dar. Toda a família humana ficou privada da graça de ser também família de Deus e de todas as vantagens que isto trazia. Por culpa de Adão todos nascem nesta situação de pobreza, própria da criatura, quando está separada de Deus. Este pecado original é diferente dos pecados que cometemos livremente. Não é culpa nossa. Mas precisamos ser libertados dele para recuperar a amizade de Deus e a vida eterna.
Sofremos, portanto, as conseqüências do pecado do primeiro homem. Mas nem por isso podemos dizer que Deus nos trata injustamente. Não estamos sendo castigados pela culpa de Adão. Apenas deixamos de receber um presente que estava previsto. Ninguém merecia a vida divina que ele nos ofereceu por meio de Adão e deixou de dar-nos por causa da falta dele. Era um dom totalmente gratuito.
Além disso, Deus não desistiu do seu projeto de nos enriquecer com seu amor e felicidade. Esta oportunidade nos é oferecida por Deus por meio de Jesus Cristo. Deus continua a atrair cada um no fundo do coração para a verdade e o bem. Só que agora o caminho para chegar até ele e viver no amor é mais duro. Sentimos uma forte inclinação de satisfazer os nossos desejos egoístas. É preciso lutar contra o pecado e passar pela morte, que se instalaram no mundo. Mas pela fé em Jesus Cristo todos podem alcançar a salvação, segundo o plano original de Deus. (João A. Mac Dowell S.J.)
Pergunta: Segundo a teoria da evolução, os primeiros seres humanos eram muito primitivos. Como isso se concilia com a história de Adão e Eva que viviam felizes no paraíso antes de pecarem?
Resposta:
Em primeiro lugar é preciso entender bem o que pretende dizer o livro do Gênese com a história de Adão e Eva no jardim do paraíso. Não se trata dum lugar em alguma parte da terra. Mas duma maneira simbólica de descrever uma situação ideal de felicidade do ser humano, resultado de sua amizade com Deus. A Bíblia quer dizer que Deus, ao criar o homem, ofereceu-lhe a oportunidade de se realizar através do amor.
Mas o primeiro homem, conforme a Bíblia, não aceitou a proposta de Deus. Por um ato livre de sua vontade, preferiu seguir os seus desejos egoístas. Por causa dessa desobediência afastou-se de Deus, perdendo todos os bens que ele lhe prometera. Portanto, a situação ideal, descrita com a imagem do paraíso, nunca se realizou. Com o seu pecado Adão não foi privado duma perfeição que já possuía, mas perdeu a oportunidade de entrar num estado superior de vida e felicidade, que lhe era oferecido.
Entendida dessa maneira a verdade religiosa do paraíso e do pecado de Adão não se opõe à explicação científica da origem da espécie humana através da evolução biológica. Como a situação paradisíaca era apenas uma oferta, recusada pelo primeiro homem, nunca foi uma realidade histórica. Portanto, não interferiu na evolução, nem modificou as condições de vida dos primeiros seres humanos, como são descritas pela investigação científica. Mas o pecado de Adão é um fato histórico. Apesar de não se manifestar externamente, teve conseqüências negativas. Se o dom de Deus tivesse sido acolhido pelo homem, a história da humanidade teria sido muito diferente.
Por outro lado, o fato de ser primitivo do ponto de vista tecnológico, mais ou menos como alguns povos indígenas que só conhecem instrumentos de pedra, não impediu o primeiro homem de tomar decisões livres. A qualidade moral duma pessoa e a intensidade de sua fé religiosa não dependem do grau de evolução cultural. De fato, conhecemos pessoas, consideradas altamente civilizadas, que não demonstram possuir nenhum sentimento moral. Ao contrário, existem pessoas culturalmente simples e atrasadas, que têm uma sensibilidade moral e religiosa muito fina: são plenamente capazes de distinguir entre o bem e o mal.
A teoria da evolução não deve abalar a sua fé na verdade cristã do pecado original. (João A. Mac Dowell S.J.)
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