“Muitos homens morreram pela espada, mas não tanto quanto morreram pela língua” (Eclo 28,22).
Um dos mais excelentes dons que Deus nos deu foi a palavra. Alguém já disse que elas são mais poderosas que os canhões. De fato, um canhão pode ser aprisionado, mas aprisionar a palavra não será possível.
Como tudo o que Deus fez, também a palavra é bela, construtora do bem e da paz; encanta os corações e as mentes; contudo, mal empregada pode ser muito destruidora. Através dela geramos grandes amizades, elevamos o ânimo abatido do irmão que sofre, despertamos forças adormecidas; mas também, podemos destruir a honra e a imagem do outro, sufocá-lo até a asfixia de suas forças e podemos gerar a guerra.
É incrível o poder da palavra! Ela leva consigo o próprio espírito e poder da pessoa que a comunica. Jesus disse que: “A boca fala daquilo que está cheio o coração” (Lc 6,45). Se você só pensa em política, você fala de política. Se você só pensa em dinheiro e em negócios, você também só fala de dinheiro e de negócios. Se você pensa em Deus, gosta de falar de Deus… e assim por diante. Se o seu coração estiver em paz; vivendo na mansidão, na humildade, cheio de misericórdia, também as suas palavras transmitirão essas virtudes. Mas se o seu coração for exaltado, rebelde, violento, cheio de ódio… cuidado com as suas palavras, elas transmitirão o seu espírito.
As palavras “mostram” o coração.Pela palavra, Jesus curou cegos e leprosos, expulsou demônios, multiplicou pães, acalmou os ventos e o mar… ressuscitou mortos, amaldiçoou a figueira estéril (Mc 11,14). Também nossas palavras poderão fazer milagres de alegria ou de dor, conforme esteja o nosso coração.
Mais uma vez, portanto, é preciso insistir na mudança do coração e na sua conversão segundo a lei de Deus, porque: “É do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraude, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e loucura” (Mc 7, 21).
Sem um coração puro, uma consciência bem formada e um espírito vigilante, nossas palavras poderão ser mais destruidoras do que edificadoras. Não é à toa que São Paulo nos exorta:
“Nenhuma palavra má saia de vossas bocas, mas só boas palavras que sirvam para edificação e que sejam benfazejas aos que a ouvem” (Ef 4,29).
Sem dúvida, a palavra má é destruidora. Destrói o irmão, machuca o seu ser, fere a sua sensibilidade, julga, condena e difama sem piedade, inescrupulosamente. Por isso, Jesus nos proibiu terminantemente de julgar alguém. “Não julgueis para que não sejais julgados, pois com a mesma medida com que medirdes sereis medidos”(Mt 7,1-2).
Está claro, quem quiser acolher a misericórdia de Deus e não ser julgado por Ele, terá que não julgar o outro. Quem julga o outro aborrece a Deus, porque, julgando- o, e condenando-o, no fundo acha-se melhor que ele. É um ato de orgulho e de soberba que ofende a Deus, Pai de todos.
É conhecida a estória daquela mulher que foi se confessar e disse ao padre que tinha difamado uma amiga, falando mal dela às outras.Após o perdão, o sacerdote deu-lhe como reparação dos pecados soltar do alto da torre da igreja um saco cheio de penas. Após cumprir a penitência, a mulher foi comunicar ao sacerdote, que lhe disse: “agora a senhora vai juntar todas as penas que o vento levou”.
Assim como é impossível juntar todas essas penas, é quase impossível restaurar os efeitos destruidores da calúnia, da fofoca e dos julgamentos indevidos. Vale a pena meditar a séria exortação de São Tiago:”Se alguém não cair por palavras, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo. Quando pomos o freio na boca do cavalo, para que nos obedeça, governamos também todo o seu corpo. Vede também os navios, por grandes que sejam e embora agitados por ventos impetuosos, são governados por um pequeno leme à vontade do piloto.
Assim também a língua é um pequeno membro, mas pode gloriar-se de grandes coisas. Uma pequena chama pode incendiar uma floresta. Com a língua bendizemos o Senhor nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de Deus” (Tg 3,1-12). Seremos também julgados por nossas palavras. Por tudo de bom que construirmos com ela seremos premiados. E tudo o que tivermos destruído com elas, teremos que reconstruir, ainda que seja no Purgatório, se Deus nos permitir.
É preciso tomar consciência do poder que possuem as palavras, para com elas fazermos apenas o bem. Jesus disse: “Eu vos digo, no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mt 12,36).
Ao explicar esse versículo, a Bíblia de Jerusalém diz que “não se trata simplesmente de palavras ‘ociosas’, mas de palavras ‘perversas’; em suma, calúnia”.
Portanto, teremos de prestar contas ao Senhor de toda calúnia proferida contra o irmão. A razão disto é que a calúnia fere profundamente a pessoa ofendida; é um pecado contra a caridade; e Deus, que é Amor, não suporta o pecado contra o amor. Um dos mandamentos é: “Não levantar falso testemunho”.
Há uma lógica profunda quando o Senhor diz que seremos julgados por nossas palavras; pois elas expressam o conteúdo que vai no nosso coração. Jesus, tomou o cuidado de dizer que:
“A boca fala daquilo que está cheio o coração”(Mt 12,34).
Assim como um mau hálito pode significar, muitas vezes, que algo não vai bem no estômago, da mesma forma as más palavras indicam que algo não está bem no coração.
“A chicotada faz um ferimento, porém uma língua má quebra os ossos” (Eclo 28,21 ).
“Feliz o homem que não pecou por palavras”(Eclo 14,1).
“Muitos homens morreram pela espada, mas não tanto quanto morreram pela língua”(Eclo 28,22).
O provérbio popular diz que “o peixe morre pela boca”; muitos homens morrem por suas palavras. Quem fala o que não deve, acaba escutando o que não quer. Sejamos prudentes no falar, dispostos a muito ouvir e cautelosos no falar.
Prof. Felipe Aquino
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