Eram duas irmãs; muito santas, mas bem diferentes no pensar e no agir. O próprio Jesus as queria muito bem, de tal forma que um dia foi lhes fazer uma visita; foi muito bem recebido pelas duas, mas dum modo completamente diferente. Marta, a primeira a ir ao encontro do Mestre, não teve mais sossego desde a chegada do divino hóspede, preocupada em bem servi-lo. Maria, logo após cumprimentar Jesus, caiu a seus pés, ficando assim todo o tempo, em profunda adoração.
Qual das duas mereceu o elogio de Jesus? “Marta, Marta, disse Jesus, tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc. 10, 41-42). Esta passagem bíblica é do evangelho da missa de amanhã, décimo sexto domingo do tempo comum.
Temos nessa passagem do Evangelho uma esplêndida lição de Cristo, ensinando que a vida contemplativa é superior a vida ativa. Ambas são complementares; uma não exclui a outra. De fato, a contemplação e a ação estão a serviço do reino.
Estou percebendo que, em nossos dias, vem crescendo a busca da contemplação. Aumenta o número de pessoas que, fugindo por um tempo, do reboliço e da agitação do mundo, consegue mergulhar no profundo silencio e, no caloroso recolhimento, se sente toda envolta e aquecida pelo amor do Divino Espírito.
Nosso ato de adoração se dirige de modo espontâneo à pessoa de Jesus Cristo; pois Ele se familiarizou conosco, vivendo em nosso meio, partilhando conosco alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas. Falando de contemplação o grande mestre de espiritualidade, Santo Inácio de Loyola insiste que devemos contemplar Cristo, para nos tornarmos semelhantes a Ele, através duma compenetração afetiva, nascida do amor.
Claro que podemos também contemplar o Pai ou o Divino Espírito Santo, conforme nosso estado de ânimo, afetivo e emocional.
São somente as três pessoas da Trindade que podemos adorar. Aos santos e também a Maria veneramos e muito amamos.
Maria, irmã de Marta, mereceu todo elogio de Jesus, porque soube distinguir o que era melhor durante a visita do Mestre. Mas Marta também fez uma boa ação, servindo a Jesus. Entre ação e contemplação, não se trata de escolher uma e abandonar outra; ambas são necessárias; deverão ser feitas no seu devido momento. Em certas circunstancias, a contemplação deve ser feita antes da ação; noutras circunstâncias, depois.
O famoso São Bento, fundador da Ordem dos beneditinos, ensinava a seus monges: ORA ET LABORA, i.e. reza e trabalha, priorizando assim a contemplação. Ninguém pode fazer grandes coisas sem rezar. Não conheço nenhum grande santo, que fez obras maravilhosas sem rezar.
Cristo é o grande modelo de ação e contemplação. Ele vivia na ativa, caminhando pelas aldeias e povoados, atendendo aos pobres, curando os doentes; mas achava tempo para, no silêncio e solitário, levantar os olhos para o Pai. Queria que seus discípulos fizessem o mesmo: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt. 11,28).
Dom Antônio de Sousa.
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