sábado, 19 de maio de 2012

Mensagem do homem triste



Passaste por mim com simpatia, mas quando me viste os alhos parados, indagaste em silêncio porque vagueio na rua.

Talvez por isto diminuíste o passo e, embora te quisesse chamar, a palavra esmoreceu-me na boca.

É possível que tenhas suposto que desisto do trabalho, no entanto, ainda hoje, bati, em vão, de oficina em oficina...

Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar dignamente meu pão, como se a natureza do corpo fosse condenação de inutilidade, e outros, desconhecendo que vendi minha roupa melhor para aliviar a esposa doente, despediram-me apressados,
acreditando-me vagabundo sem profissão.

Não sei se notaste quando o guarda me arrancou da contemplação da vitrine, a gritar-me palavras duras, qual eu fosse vulgar malfeitor...Ladrão até, porém, que nem de leve me passou pela mente a idéia do furto; apenas admirava os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçarem com fome, quando retorno a casa.

Ignoro se observaste as pessoas que me dirigiam gracejos, imaginando-me embriagado, porque eu tremesse encostado ao poste; afastaram-se todas, com manifesto desprezo, contudo, não tive coragem de explicar-lhes que não tomo qualquer alimento há três dias...

A ti, porém que me fitaste sem medo, ouso rogar apoio e cooperação.
Agradeço a dádiva que me estendas, no entanto, acima de tudo, em nome do Cristo que dizemos amar, peço me restituas a esperança, a fim de que eu possa honrar, com alegria, o dom de viver.

Para isto basta que te aproximes de mim, sem asco, para que eu saiba, apesar de todo o meu infortúnio, que ainda sou teu irmão.

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