Os homens precisam falar. Sua alma, transbordante de angústia, de tédio ou de alegria, procura desesperadamente exprimir-se. As palavras são veículos da alma e permitem aos homens comungar uns com os outros. Os “caladões” Muitas vezes sofrem intensamente por não poder exprimir-se. A timidez, o temor de não serem compreendidos, a ausência de pessoas disponíveis para ouvi-los, as paralisam. Com efeito, poucos homens são parceiros acolhedores para seus irmãos, porque poucos homens se esquecem inteiramente de si mesmos para concentrar-se no outro…
O homem precisa dizer-se, contar-se, provocar compaixão, provocar elogios, fazer-se levar. Escute o outro, escute mais ainda, escute apaixonadamente. Alguns morrem sem nunca ter encontrado ninguém que lhes tenha prestado a homenagem de calar-se totalmente para ouvi-los.
Se você quiser ser agradável às pessoas que encontra, fale-lhes daquilo que lhes interessa e não daquilo que interessa a você.
Falar com outro é primeiro escutar, mas, muitos poucos sabem ouvir, porque poucos estão vazios de si mesmos, e o seu eu faz barulho.
” Puxa! o seu caso me faz lembrar um que aconteceu comigo…
” Enquanto o outro falava, você só pensava em si mesmo. Não interrompa o outro para falar de si. Deixe-o falar dele até o fim. Se você ficar com vontade de contar alguma coisa a seu respeito, é sinal que só pensa em si. E se você pensa em si, não se entrega ao outro.
Mas, se acontecer que você tenha que falar de si, que seja sempre em função do outro, para esclarecê-lo, iluminá-lo, acalmá-lo, enriquecê-lo, e nunca para valorizar sua pessoa, eclipsar os demais, humilhar, esmagar.
Se o outro se calar diante de você, respeite seu silêncio e, aos poucos, suavemente, vá ajudando-o a falar. Interrogue-o sobre a vida que leva, as preocupações que o angustiam, seus aborrecimentos; pois, falar com o outro, muitas vezes, também é saber perguntar.
Preste atenção para que ele não saia antes de ter dito tudo o que queria. Se, depois de ter saído ele pensar: “ele estava com um ar distante”, é porque você estava longe. Se ele tiver concluído:
“Não insisti porque ele parecia aborrecido”, é porque você não estava disponível… Terá ele coragem de voltar? Você está preocupado, triste, nervoso por numerosos problemas.
Alguém chega para falar com você. Pegue calmamente seu nervosismo, seu mau humor, seus aborrecimentos e dê tudo ao Senhor. Recomece esta operação tantas vezes quantas forem necessárias, e mais depressa do que você pensa, estará livre para ouvir, receber e comungar.
Caminhe em direção ao outro:
Para que ele entre dentro de você, há alguns degraus, estenda a mão, Para erguer o embrulho do chão, é preciso fazer força; estenda a mão.
Estender a mão é sorrir, dar um tapinha no ombro, é dizer:
“e o seu filhinho, como vai?”
“e aquele caso do outro dia, como acabou?”
“e depois… o que foi que aconteceu?”
E em cada uma dessas pequenas frases, ponha-se todo inteiro, ponha todo o amor do Senhor que eternamente convida.
Quando um abcesso está maduro, tem que ser espremido para esvaziar-se. Só depois e que se pode pôr o remédio. Se o outro tiver dificuldades, não se apresse em dar-lhe uma solução…
Ajude-o delicadamente a “esvaziar o abcesso”, em seguida, basta uma palavra amiga, um aperto de mão… e o remédio será eficaz, porque o mal foi removido.
Se você souber ouvir, muitos virão lhe fazer confidências. Então, seja receptivo, silencioso, concentrado. E antes, talvez, que você tenha tido tempo de pronunciar uma palavra construtiva, o outro ir-se-á embora liberto, feliz, aliviado. Pois, o que inconscientemente ele esperava, não era um conselho, uma receita de bom viver, mas alguém a quem pudesse entregar-se para ser carregado.
Se você deve responder, não procure o que dizer enquanto o outro fala, pois antes de mais nada ele precisa de atenção, e só depois, de palavras. Em seguida, abandone-se ao Espírito Santo, pois aquilo que toca as almas não é o fruto de raciocínio, mas o fruto da graça.
Não haverá verdadeiro diálogo se você não fizer em si um profundo silêncio, um silêncio religioso para acolher o outro, pois no outro e pelo outro é Deus que vem a você e só a Fé pode dispô-lo ao diálogo.
Michel Quoist
Retirado do livro “Construir o Homem e o Mundo”
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