Teologicamente, o Batismo integra o bloco dos sacramentos
da iniciação cristã, juntamente com a crisma e a eucaristia. Ainda que a
administração desses sacramentos se dê separadamente, é inegável; contudo, a
inter-relação existente entre eles. E a “porta de entrada” para ambos é o
batismo. Neste artigo, acentuaremos, pois, o seu significado.
O Batismo é a “porta” de acesso à fé. Ele
insere a pessoa na Igreja e lhe confere a dignidade de filho/a de Deus,
mediante a adesão consciente da fé na Trindade, por meio do seguimento de Jesus
Cristo dentro de uma comunidade. Confere também igual importância àqueles/as
que o recebem. Todos/as são, portanto, vocacionados à santidade, independente
de idade, raça, sexo ou condição social. Essa igualdade se concretiza na
perspectiva dinâmica do seguimento do Ressuscitado. Leva a pessoa a
comprometer-se com a sua fé e com os irmãos/ãs, em continuidade com a práxis
libertadora de Jesus. É possível identificar sua prática? Ela passa pela
promoção da caridade, da justiça, da solidariedade e da paz.
Podemos perguntar ainda: O que motiva tal pessoa a agir? Ao abraçar a fé, ela
também assume e participa da tarefa de construir o Reino de Deus na terra,
enquanto peregrina para o Reino definitivo. Desse modo, ela assume a missão da
Igreja. Esta se torna viva e atuante na pessoa daquele cristão (ã) que
realmente se comprometeu com o seu batismo.
Dito isso, fica claro que o batismo lança a
pessoa para a missão, para fora de si mesma libertando-a de uma atitude
egocêntrica. Torna-a mais atenta à realidade e sensível às necessidades
daqueles/as com quem convive e partilha sua existência. Nesse sentido, aqui,
também encontramos a dimensão profética do batismo e da vocação cristã. Esta
remete o indivíduo a sua responsabilidade histórica, ou seja, ao compromisso
transformador. Oxalá, esse atinja as atuais estruturas que, por vezes, geram
contrastes e desigualdades gritantes.
Sem dúvida, tal engajamento, em seus vários níveis de envolvimento, indica o
diferencial no agir de uma pessoa batizada. Consciente de sua inserção no
Mistério Pascal de Cristo e do chamado a viver num processo de constante
conversão, dos ídolos ao Deus vivo, ela vai à prática. Responde ao chamado a
ser nova criatura. Em que consiste esse chamado? Em assumir como própria a
condição de filho/a de Deus (liberdade cristã) e de viver novas relações com
o/a outro/a (aspecto ético). O escrito de 1Pd 2,9-10 alusivo ao batismo aponta
para essa perspectiva. Vamos contextualizá-lo?
Num contexto de diáspora, o autor interpela a esses seguidores de Jesus (pagãos
convertidos) o seu compromisso de viver uma vida exemplar. Recorda-lhes o fato
de serem raça eleita e povo escolhido, uma propriedade particular de Deus.
Chamados, portanto, para testemunhar, isto é, para proclamar as excelências
daquele que os chamou das trevas à luz, a passar da condição de “não-povo” a
povo de Deus por pura misericórdia desse Deus que os amou e chamou.
Tudo isso, também nos interpela... Convém perguntar-nos: será que os cristãos
compreenderam o sentido real do batismo? Que consciência têm da missão que ele
confere? O viver do/a cristão/ã expressa sua vocação especial de filho/a de
Deus? Pessoalmente, já me despertei para essa nova realidade de vida, à qual
Deus me chama? Isso tem implicações em todos os níveis do meu viver pessoal,
social, religioso? Quem, qual é o referencial da minha vida? Esse orienta
minhas decisões? O fato de ser cristão/ã influencia minhas opções? Como?
Sugerimos retomar o tema da santidade trabalhado em Dicas Bíblicas do mês abril
2003: “ser santos como Deus é santo” e, a partir dele, elencar outros aspectos
relacionados à realidade do ser cristão. Suas implicações, como vimos, sempre
envolvem atitudes de vida e extrapolam a esfera pessoal.
Deixemos, então, que o Batismo adquira ou readquira o seu verdadeiro sentido em
nossa vida, acentuando seu aspecto transformador nascido da dinâmica vital que
provém da Morte/Ressurreição de Jesus. Os próprios símbolos do Batismo o
evidenciam. A água que purifica e integra a pessoa no projeto salvífico de Deus
Trindade.
Outra dimensão fundamental do batismo é o aspecto da comunhão e da
solidariedade. O que isso significa? Pelo batismo somos incorporados na Igreja,
Corpo de Cristo. Essa Igreja não é algo abstrato, mas concreto e vivo na
atitude de vida das pessoas que abraçam a mesma fé.
O batismo é confirmado pela crisma. Nesse
sacramento, o cristão/ã assume sua missão de profeta-sacerdote-rei. É na
comunidade que nasce e se fortalece a comunhão na diversidade, na valorização e
no incentivo dos carismas (dons) e ministérios (serviços), bem como a igualdade
em vista da missão (envio), objetivando a transformação da sociedade, a partir
da opção pelos mais pobres.
Tudo isso nos leva a concluir que o chamado a ser cristão é um dom maravilhoso,
uma dádiva do alto. Daí decorre que a vida e o agir do cristão/ã é muito
importante. Cada um de seus atos participa do momento escatológico, enquanto
anuncia o Reino já presente e evidencia a chegada do Reino definitivo.
Confirma-nos, finalmente que, à medida que vamos nos configurando nesse
processo de seguimento e adesão a Cristo, vamos experimentando a liberdade de
sermos filhos/as de Deus e, conseqüentemente livres... ainda que continuemos
nossa peregrinação nesta terra, aguardando o momento da plenitude definitiva.
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