Não é raro ouvirmos queixas sobre
queixas, de relacionamentos que estavam muito bem enquanto namorados, mas que
acabou por se desmoronar quando casados. O que deveria ser a lua de mel, até
porque deveria ser também o que se busca no namoro, passa a ser frustrante.
Não é via de regra logicamente, mas é comum que isso ocorra, ou pelo menos que
as crises compareçam. Mas, cabe reflexão, para pensarmos o porque isso ocorre e
mais ainda, descobrirmos quais as formas viáveis para se resolver isso.
Um dos fatos mais
notórios, é justamente a convivência diária e continuada. Em outras palavras, a
intimidade que passa a ser dividida, como se obrigação fosse. Enquanto namoro,
essa "caixa de segredo" chamado intimidade fica preservada e de certa
forma protegida. Numa relação, agora de casados, é necessário aprender a
dividir o que antes não se dividia; precisa aprender a compartilhar o que não
se compartilhava; precisa aprender a ceder, o que antes não cedia.
Outro fator é o
desgaste comum e inevitável, que todos nós estamos submetidos, quando
convivemos com as pessoas por muito tempo. Claro, que quando temos um
sentimento por alguém, a busca por este, é incessante. Porém, os acontecimentos
tornam-se de grande proporção, quando estamos pertos demais. O exemplo mais
claro para ilustrar o quero dizer, são as interpretações na fala, olhar,
atitudes que comumente pensamos ser de certa forma, quando na verdade pode ser
de outra. Exatamente pelo fato de irmos conhecendo um pouco mais uma pessoa que
até pouco tempo, não compartilhava sua vida conosco e não dividia a mesma cama,
e que, o que antes era novidade, agora vira rotina.
E por fim, ainda
temos a dificuldade de fazermos o simples tornar especial. Geralmente, na fase
do namoro, essa arte ainda é possível ser feita: simples gestos e encontros,
tornam-se especiais. Um cinema, fim de semana com amigos, risos, o pensar no
outro, planejamento do futuro entre outras atividades, transformam o
corriqueiro em especial. No casamento, isso vai aos poucos perdendo o sentido.
Dessa forma, podemos
então pensar, que hoje temos muitos casais, que estão juntos, porém separados
há tempos. Porque? Explica-se isso em partes, no fato de não ter o
sentimento que está só, ou ainda o sentimento de que não está separado. Sem dúvidas,
isso pesa muito em qualquer relação. Há muitos relacionamentos, em que os
casais não estão casados. Estão separados fisicamente, emocionalmente,
amorosamente, mas são dependentes da necessidade de ter alguém do lado, mesmo
que isso não tenha nenhum significado. Em algum momento essa companhia serve
para alguma coisa.
Outros fatores devem
ser notados para que isso ocorra. Fatores tais como financeiro, social e
pessoal. Para muitas pessoas, adaptar-se a viver uma vida de solteiro ou ainda,
morar sozinho novamente é crucial. Por certo, você conhece alguém que sempre
está em um relacionamento, pelo simples fato de não estar sozinho. Há pessoas,
que ainda não aprenderam conviver com a solidão ou ainda, não conseguem
dominá-la.
Também
é necessário desmistificar alguns sentimentos. Somente amor, de fato,
não salva nenhuma relação. Há sentimentos que são parte subjetivos e
espontâneos, partes construídos. Nenhum sentimento nasce pronto e continua
pronto. Toda relação necessita de manuntenção para que continue existindo. E é
chato fazer manutençao. Na manutenção é que coseguimos descobrir as
"pequenas grandes coisas" e são essas, que precisam ser detectadas,
juntos e/ou separados.
Contudo, estar
juntos, - juntos - de fato, é essencial para fazer a felicidade de uns. É bem
verdade também, que estando separados, é possível estar feliz também. A regra é
simples: Junte-se quando o "seu todo", precisa do outro para estar
completo.
(Paulo Veras)
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Paulo Veras é psicólogo
clínico e organizacional, psicanalista e professor universitário em Goiânia-GO
Blog do autor: http://paulo-veras.blogspot.com.br/