sexta-feira, 20 de agosto de 2010
A Mulher Perfeita
Certa tarde, conta uma antiga história sufi, Nasrudin tomava chá e conversava com um amigo sobre a vida e o amor.
"Por que você nunca se casou, Nasrudini?", perguntou o amigo.
"Bem", respondeu, Nasrudini, "para dizer a verdade, passei toda a minha juventude a procurar a mulher perfeita. No Cairo conheci uma moça linda e inteligente, com olhos que pareciam olivas pretas, mas ela não era muito cortês. Depois, em Bagdá, conheci uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tínhamos muito interesses em comum. Muitas mulheres passaram pela minha vida, mas em cada uma delas faltava alguma coisa, ou alguma coisa estava demais. Então, um dia, eu a conheci. Era linda, inteligente, generosa e bem- educada. Tínhamos tudo em comum. Na verdade, ela era perfeita".
"E então", replicou o amigo de Nasrudini, "o que aconteceu? Por que você não se casou com ela?"
Pensativo, Nasrudin sorveu mais um gole de chá e concluiu: "Infelizmente, parece que ela estava a procura do homem perfeito."
Como Nasrudin, quase todos nós queremos encontrar a perfeição fora de nós mesmos. Criamos em nossa cabeça a imagem ideal da mulher ou do homem que buscamos, projetamos essa imagem em cima do namorado ou namorada, da esposa ou marido, e queremos que ele ou ela corresponda a essa imagem.
Ao alimentar essa expectativa utópica, perdemos a capacidade de entender e gostar do ser humano real ao qual nos ligamos. E, muitas vezes, como ele ou ela não podem corresponder a essa expectativa - pelo simples fato de que ela é produto da nossa idealização e dos nossos desejos fantasiosos -, acabamos, frustrados, por rejeitar a pessoa com quem nos relacionamos, quase sempre sem ter sequer "conhecido" essa pessoa.
Com uma mulher aconteceu algo desse tipo. Passou cinco anos casada, e deixou o marido quando percebeu que ele não se encaixava no modelo de príncipe encantado que ela cultivara desde a infância. Ele se casou novamente com outra mulher. Tempos depois, ao ouvir a nova esposa de seu ex-marido falar da vida feliz que levava com ele, e de todas as boas qualidades que faziam dele um esposo excepcional, a mulher - ainda solitária - ficou perplexa: "Parecia que ela falava de uma pessoa que eu nunca conhecera."
Certo. Ela nunca o conhecera de fato, porque cada vez que olhara para ele, era capaz de enxergá-lo, mas não de vê-lo. Ao esperar que ele correspondesse ao modelo idealizado de homem que ela cultivara em sua cabeça, perdera contato com a realidade do homem com quem se casara. Uma realidade que, possivelmente, podia ser até muito melhor do que a do modelo sonhado. Porém diferente.
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