Professor Felipe Aquino*
Lembre-se de que lidamos com
pessoas e não com gado.
Como você corrige seu filho, seu
esposo, sua esposa, seu empregado, seu colega, seu subordinado de modo geral? É
um dever e uma necessidade corrigir aqueles a quem amamos, mas isso precisa ser
feito de maneira correta. Toda autoridade vem de Deus e em Seu nome deve ser
exercida; por isso, com muito jeito e cautela.
Não é fácil corrigir uma pessoa que
erra; apontar o dedo para alguém e dizer-lhe: “Você errou!”, dói no ego da
pessoa; e se a correção não for feita de modo correto pode gerar efeito
contrário. Se esta for feita inadequadamente pode piorar o estado da pessoa e
gerar nela humilhação e revolta. Nunca se pode, por exemplo, corrigir alguém na
frente de outras pessoas, isso a deixa humilhada, ofendida e, muitas vezes, com
ódio de quem a corrigiu. E, lamentavelmente, isso é muito comum, especialmente
por parte de pessoas que têm um temperamento intempestivo (“pavio curto”) e que
agem de maneira impulsiva. Essas pessoas precisam tomar muito cuidado, porque,
às vezes, querendo queimar etapas, acabam queimando pessoas. Ofendem a muitos.
Quem erra precisa ser corrigido,
para seu bem, mas com elegância e amor. Há pais que subestimam os filhos, os
tratam com desdém, desprezo. Alguns, ao corrigi-los, o fazem com grosseria,
palavras ofensivas e marcantes. O pior de tudo é quando chamam a atenção dos
filhos na presença de outras pessoas, irmãos ou amigos, até do (a) namorado
(a). Isso o (a) humilha e o (a) faz odiar o pai e a mãe. Como é que esse (a)
filho (a), depois, vai ouvir os conselhos desses pais? O mesmo se dá com quem
corrige um empregado ou subordinado na frente dos outros. É um desastre humano!
Gostaria de apontar aqui três
exigências para corrigir bem uma pessoa:
1 – Nunca corrigir na frente dos
outros.
Ao corrigir alguém, deve-se
chamá-lo a sós, fechar a porta da sala ou do quarto, e conversar com firmeza,
mas com polidez, sem gritos, ofensas e ameaças, pois este não é o caminho do
amor. Não se pode humilhar a pessoa. Mesmo a criança pequena deve ser corrigida
a sós para que não se sinta humilhada na frente dos irmãos ou amigos. Se for
adulto, isso é mais importante ainda. Como é lamentável os pais ou patrões que
gritam corrigindo seus filhos ou empregados na frente dos outros! Escolha um
lugar adequado para corrigir a pessoa.
Gostaria de lembrar que a Igreja,
como boa Mãe, garante a nós o sigilo da Confissão, de maneira extrema. Se o
sacerdote revelar nosso pecado a alguém, ele pode ser punido com a pena máxima
que a instituição criada por Cristo pode aplicar: a excomunhão. Isso para
proteger a nossa intimidade e não permitir que a revelação de nossos erros nos
humilhe. E nós? Como fazemos com os outros? Só o fato de você dar a privacidade
à pessoa a ser corrigida, ao chamá-la a sós, ela já estará mais bem preparada
para a correção a receber, sem odiá-lo.
2 – Escolha o momento certo.
Não se pode chamar a atenção de
alguém no momento em que a pessoa errada está cansada, nervosa ou indisposta.
Espere o melhor momento, quando ela estiver calma. Os impulsivos e coléricos
precisam se policiar muito nestes momentos porque provocam tragédias no
relacionamento. Com o sangue quente derramam a bílis – às vezes mesmo com
palavras suaves – sobre aquele que errou e provocam no interior deste uma
ferida difícil de cicatrizar. Pessoas assim acabam ficando malvistas no seu
meio. Pais e patrões não podem corrigir os filhos e subordinados dessa forma,
gritando e ofendendo por causa do sangue quente. Espere, se eduque, conte até
10 dez, vá para fora, saia por um tempo da presença do que errou; não se lance
afoito sobre o celular para o repreender “agora”. Repito: a correção não pode
deixar de ser feita; a punição pode ser dada, mas tudo com jeito, com
galhardia. Estamos tratando com gente e não com gado.
3 – Use palavras corretas.
Às vezes, um “sim” dito de maneira
errada é pior do que um “não” dito com jeito. Antes de corrigir alguém, saiba
ouvi-lo no que errou; dê-lhe o direito de expor com detalhes e com tempo o que
fez de errado, e por que fez aquilo errado. É comum que o pai, o patrão, o
amigo, o colega, precipitados, cometam um grave erro e injustiça com o outro. O
problema não é a correção a aplicar, mas o jeito de falar, sem ofender, sem
magoar, sem humilhar, sem ferir a alma.
Eu era professor em uma Faculdade,
e um dos alunos veio me dizer que perdeu uma das provas e que não podia trazer
atestado médico para justificar sua falta. Ter que fazer uma prova de segunda
chamada, apenas para um aluno, me irritava. Então, eu lhe disse que não lhe
daria outra prova. Quando ele insistiu, fui grosseiro com ele, até que ele pôde
se explicar: “Professor, é que eu uso um olho de vidro, e no dia da sua prova o
meu olho de vidro caiu na pia e se quebrou; por isso eu não pude fazer a
prova”. Fiquei com “cara de tacho” e lhe pedi mil desculpas.
Nunca me esqueci de uma correção
que o meu pai nos deu quando eu e meus oito irmãos éramos ainda pequenos. De
vez em quando nós nos escondíamos para fumar escondidos dele. Nossa casa tinha
um quintal grande e um pequeno quarto no fundo do quintal; lá a gente se reunia
para fumar.
Um dia nosso pai nos pegou fumando;
foi um desespero… Eu achei que ele fosse dar uma surra em cada um; mas não, me
lembro exatamente até hoje, depois de quase cinquenta anos, a bela lição que
ele nos deu. Lembro-me bem: nos reuniu no meio do quintal, em círculo, depois pediu
que lhe déssemos um cigarro; ele o pegou, acendeu-o, deu uma tragada e soprou a
fumaça na unha do dedo polegar, fazendo pressão, com a boca quase fechada. Em
seguida, mostrou a cada um de nós a sua unha amarelada pela nicotina do
cigarro. E começou perguntando: “Vocês sabem o que é isso, amarelo? É veneno; é
nicotina; isso vai para o pulmão de vocês e faz muito mal para a saúde. É isso
que vocês querem?”
Em seguida ele não disse mais nada;
apenas disse que ele fumava quando era jovem, mas que deixou de fazê-lo para
que nós não aprendêssemos algo errado com ele. Assim terminou a lição; não
bateu em ninguém e não xingou ninguém; fomos embora. Hoje nenhum de meus irmãos
fuma; e eu nunca me esqueci dessa lição. São Francisco de Sales, doutor da
Igreja, dizia que “o que não se pode fazer por amor, não deve ser feito de
outro jeito, porque não dá resultado”.
E se você magoou alguém,
corrigindo-o grosseiramente, peça perdão logo; é um dever de consciência.
* Prof. Felipe Aquino é doutor em
engenharia mecânica pela UNESP e pelo ITA. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual
EEL-USP) durante 20 anos. Nasceu na cidade de Lorena – SP. É casado há 35 anos
com Maria Zila, fundadora da Editora Cléofas e tem cinco filhos: dois
engenheiros, uma médica e dois dentistas.Desde 1970 trabalha com o Pe. Jonas
Abib; faz um programa na Rádio Canção Nova (No coração da Igreja) e faz dois
programas na TV Canção Nova (Escola da Fé e Trocando Idéias). Ministra formação
para os noviços da Canção Nova, escreve no Portal Canção Nova e no site da
Editora Cléofas com mais de mil artigos, documentos e notícias
publicadas.Escreveu 59 livros sobre doutrina católica, casamento,
espiritualidade, jovens, familia, etc. Lançados pela Editora Cléofas, Editora
Canção Nova, Loyola e Raboni.